Tecnologia da Informação possui diversas palavras emprestadas do inglês. Professora-doutora em Estudos da Linguagem explica que importações se disseminam mais facilmente com a Internet
Ao pensar rapidamente no caminho que o levou a esta matéria, podemos pressupor que clicou no link de um e-mail ou acessou o seu browser para chegar até nosso site. Somente nessa sentença, reunimos pelo menos cinco palavras frequentemente usadas na tecnologia da informação. No dia a dia a lista é grande e possui alguns traços em comum: muitas são estrangeirismo ou derivaram da língua inglesa.
De acordo com a professora-doutora do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Paula Ávila Nunes, isso ocorre porque o inglês não só é uma língua franca como também é a “predileta” do campo da informática. Ela explica que esses termos são incorporados nas línguas ao redor do mundo da mesma forma como sempre foram: com adaptações fonológicas e morfológicas da língua em que estão sendo inseridos.
Apesar da inserção de outras palavras no vocabulário usual, não houve mudanças nos fenômenos linguísticos, a internet somente fez com que fosse mais frequente o contato entre as línguas. “A única diferença efetivamente visível em relação à era pré-internet é que essas importações se dão mais rapidamente, além de se disseminarem mais facilmente, pela frequência de uso”, ressalta. Mesmo que os termos sejam mais disseminados, Paula destaca que os estrangeirismos são incorporados apenas por aqueles que têm determinado contato com a Internet e não são um fenômeno tão ubíquo quanto imaginado. “Grupos sociais menos suscetíveis às mudanças linguísticas, como os idosos, por exemplo, continuam relativamente alheios a essas mudanças. Costumamos pensar que a internet tem uma penetração social irrestrita, mas isso não é verdade”, destaca.
Novos sentidos
A área de TI também contribuiu para que palavras ganhassem outras conotações, como é o caso de “hardware”, utilizada na língua inglesa para denotar ferramentas ou maquinarias. Na informática, o termo se refere aos componentes físicos, e derivou outro, o “software” para os componentes não físicos, como os programas informáticos. O vocábulo “hack” é outro exemplo. Ele faz parte da língua inglesa desde o ano 1200 e é definido como o ato de “cortar com golpes pesados de forma irregular ou aleatória”. Em 1950, o Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), foi o responsável por ligar “hack” às soluções criativas para problemas com máquinas. O sentido negativo só seria estabelecido mais para frente.
Paula comenta que a Internet não alterou a dinâmica linguística, mas o fato de haver mais falantes influenciou na incorporação de novas palavras ou formas de expressão, respeitando a fonologia e a morfologia de cada idioma. “Termos serem empregados com diferentes significados é um movimento natural de qualquer idioma do mundo. Portanto, não surpreende que vejamos palavras já conhecidas sendo empregadas com outro sentido no âmbito da informática. É uma forma inteligente de fazer uma língua operar: em vez de criarmos palavras novas para cada coisa nova que queremos dizer, utilizamos as que já temos à nossa disposição, mas com alterações no sentido”, fala.
Isso também pode ser visualizado a partir do empréstimo de obras literárias ou cinematográficas, como é o caso de “ciberespaço”. O termo foi adotado inicialmente pelo autor de ficção científica William Gibson para definir um espaço imaterial, constituído por conceitos e ideias. Já do filme “War Games”, de 1983, foi emprestada a expressão “firewall”, inicialmente atribuída a uma parede para proteger equipamentos ou zonas de edifícios e atualmente referenciada a um software que impede o acesso indevido em sistemas. Confira abaixo a origem de outros termos da TI:
Bluetooth
O rei da Dinamarca, Haroldo Gormsson, viveu no fim do século X e era mais conhecido como Haroldo Dente-Azul, devido a um dente necrosado com tom azulado em sua boca. O monarca unificou a Dinamarca e a Noruega em 958. Em 1996, o norte-americano Jim Kardach, que ouvia a história do rei Haroldo de amigos suecos, sugeriu “Bluetooth” para designar uma ferramenta capaz de conectar aparelhos sem fio em curta distância como um nome temporário em uma reunião com representantes de três empresas da indústria de tecnologia. Devido a falta de outras opções, a expressão acabou ficando.
Spam
Spam é uma marca de carne pré-cozida vendida em lata em mais de 40 países. Em 1970, o programa de humor Monty Python’s Flying Circus exibiu um episódio em que o produto era repetido exaustivamente. Em referência a ele, a expressão foi utilizada no início da Internet para indicar postagens repetitivas enviadas por usuários de salas de chat. Anos depois, o termo passou a referenciar e-mails encaminhados em grande quantidade.
Bug
Divulgam-se duas teorias sobre a origem do termo que denomina erros em softwares. A primeira explicação é a de que Thomas Edison, inventor da lâmpada, apropriou-se da palavra para descrever sistemas com defeito. Outra história envolve a programadora Grace Hopper, que estava trabalhando no computador Mark II em 1947 e teve que parar por conta de uma mariposa que ficou presa no relé da máquina. Na época, ela comentou que estava “debugging”, ou seja, retirando o inseto do sistema.
Fonte: it4cio.com