Muito tem se falado sobre a disseminação do uso das tecnologias, dos seus benefícios e transformações na rotina. Apesar da conveniência dos avanços, muitas pessoas têm dificuldade de usar os seus dispositivos, tanto por desconforto quanto por medo. Há até mesmo um termo específico para isto: tecnofobia, que é a sensação forte de aversão a tecnologia. O que pode fazer alguém se tornar tecnofóbico? De acordo com o portal especializado, Psicoativo, os motivadores da fobia vão desde a insegurança pelo pouco domínio técnico, até traumas psicológicos ou, mesmo, motivações de cunho religioso. Um exemplo são os Amish, que têm forte resistência a qualquer tipo de desenvolvimento tecnológico por suas convicções religiosas.
A conjuntura histórica também pode ter um papel importante no desencadeamento da fobia. Ainda segundo o portal, com a velocidade das transformações tecnológicas e da conjuntura sociocultural e econômica, a pessoa pode ter o receio de estar se tornando obsoleta, com risco de ser substituída por uma máquina em sua profissão. Um exemplo, dentre muitos possíveis, é o Ludismo da Primeira Revolução Industrial, que aconteceu entre 1811 e 1816 em toda a Inglaterra. O nome do movimento foi desenvolvido em homenagem a Ned Ludd, um dos primeiros trabalhadores a destruir máquinas industriais como manifestação de sua insatisfação com a tecnofobia.
Sintomas e Motivadores
Alguns dos sintomas da tecnofobia são: hiperventilação e tontura, taquicardia, irritabilidade com crises de ansiedade e, até mesmo, incapacidade de pensar ou falar. Também podem ser reconhecidos comportamentos relacionados, como a resistência a quaisquer automações, indisposição irracional a atualizações de hardware ou software, crítica insistente a implementações e avanços tecnológicos etc. De acordo com o livro “Inovação e seus inimigos: por que as pessoas resistem às novas tecnologias” (em tradução livre do inglês ao português), de Calestous Juma (2016), há quatro motivadores principais para a resistência a quaisquer tipos de inovação e tecnologia.
O primeiro é o instinto de preservação e segurança, no qual uma mudança muito drástica pode gerar desconforto e medo às pessoas, que perdem temporariamente o seu padrão de normalidade e, então, o seu referencial sobre como agir. Outro motivador, já citado, é o receio de ser substituído em sua atuação profissional por uma máquina ou dispositivo. Não é o medo da tecnologia em si, mas de suas implicações e potenciais prejuízos na vida pessoal ou na carreira. O terceiro motivador à tecnofobia é o risco de constrangimento, por ela representar um desafio intelectual que pode fazer a pessoa se sentir ignorante ou incapaz tecnicamente. Por fim, o quarto é a desnaturalização dos processos de produção, consequente dos avanços tecnológicos. Algumas pessoas podem reagir negativamente a ideia de “desumanização” da técnica e da tecnologia, como se as coisas perdessem a sua essência de acordo com os modos por meio dos quais ela foi produzida. É a ideia de “perda da aura”, desenvolvida por Walter Benjamin em seu livro “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” (1936).
Como superar a tecnofobia?
O que fazer, se você sofre com esta fobia? A tecnologia, em si, não é boa ou ruim; porém, se ela é um gatilho para crises de ansiedade, é importante procurar ajuda. Podem ser tanto familiares ou amigos, quanto acompanhamento terapêutico. Há profissionais especializados em atender pessoas com tecnofobia, até mesmo com tratamentos que preveem a dessensibilização ou o treinamento técnico personalizado. Dos desenvolvedores e profissionais da área de tecnologia, há também a possibilidade de reconhecer a tendência de um surto de tecnofobia, prevendo-a em suas atuações profissionais. Programadores, designers e afins, podem ter sensibilidade e fazer a sua parte, buscando criar plataformas, aplicativos e aparelhos de uso mais intuitivo e orgânico. Tal iniciativa é reconhecida, por sua importância, como uma ação de responsabilidade social e inclusão; pois amplia a disseminação e aderência aos avanços tecnológicos e dispositivos, sem tantos traumas ou exclusões sociais potencialmente consequentes.
O outro lado: Tecnofilia
A sensação contrária também é uma tendência: a tecnofilia, condição na qual a pessoa se torna emocionalmente dependente da tecnologia. Sobre os usos da internet, nas palavras de Paloma Mendes Saldanha, CEO da ONG PlacaMãe.org, deveriam ser consideradas questões como a “herança digital” (tudo que se mantém registrado on-line durante o nosso uso) e a necessidade de construção de si por meio das comunicações mediadas (por redes sociais e plataformas). Também são pontos a serem considerados: as consequências da liberdade de expressão sem a devida responsabilidade, os efeitos negativos do cyberbullying, e a necessidade de práticas de segurança em ambiência digital (como a proteção contra assédio e abuso sexual na rede).
Ainda de acordo com Paloma, doutora em Direito pela UNICAP (com ênfase na aplicabilidade da inteligência artificial no Judiciário brasileiro), são principalmente preocupantes no uso da internet: a hiperexposição da imagem pessoal, a dependência emocional crescente do uso da internet e, também, os impactos psicológicos do acesso a conteúdo inapropriado. Os tecnofólicos têm, por vezes, uma percepção em demasiado otimista e ingênua em relação ao potencial dos usos da tecnologia. Nos dois casos, de atração ou repulsão exageradas, ambas as condições podem prejudicar o dia a dia da pessoa, interferindo negativamente nas relações pessoais e profissionais.
fonte: it4cio.com